“Ela sabia ouvir tão bem, que fazia os outros terem ideias”
Manu, a Menina que Sabia Ouvir- Michael Ende
Antes de aprendermos algumas formas de organizar conversas mais produtivas é importante entendermos porque conversar é tão importante e o quanto a qualidade de uma conversa pode influenciar indivíduos e coletivos.

Conheça alguns elementos fundamentais para o bom desenvolvimento de qualquer conversa.

Anfitrião ou Anfitriã
É a pessoa que chama a conversa e que portanto tem uma responsabilidade de fazer com que o encontro seja o mais produtivo e significativo possível pra tod@s. É importante essa pessoa ter em mente seu papel de facilitadora de processos que, em suma, é criar oportunidades para que as pessoas compartilhem o que têm de melhor e encontrar formas de aumentar as possibilidades de que algo incrível surja do encontro das pessoas.
O Papel do Anfintrião ou Anfitriã é:
Cuidar do Ambiente - Prepare um ambiente acolhedor e harmonioso, da forma que estiver ao seu alcance. Conversas em círculos são mais produtivas e profundas. Deixar os materiais que serão usados, já organizados e acessíveis evita maiores bagunças.
Cuidar das Pessoas - Comece por você mesm@. Esteja consciente de suas necessidades e atent@ à necessidade do outro. Recepcione os participantes e conte um pouco sobre a atividade. Quanto mais cada pessoa souber de todo processo, maior a capacidade do grupo em se auto-organizar. Deixe as pessoas a vontade. Quitutes, ambientes relaxados e preparados, fluxo claro de atividades, deixam as pessoas menos ansiosas, e mais disponíveis para um bom dia de trabalho.
Cuidar do Fluxo - O papel do anfitrião é manter a vibração da atividade, e cuidar para que cada um possa contribuir com o melhor de si. Para isso ter um fluxo claro das atividades em mente é importante. E pensar as etapas e metodologia para permitir que as pessoas se escutem, interajam, produzam e percebam individualmente o que produziram juntos. Cuidar fielmente do tempo com pausas e alternância de atividades é fundamental para que as pessoas não se cansem, mantenham o foco e a disposição em escutar e contribuir.
A Importância do Círculo e da Horizontalidade
A conversa em círculo é a forma mais antiga de troca coletiva de informação, desde nossos ancestrais que se reuniam ao redor do fogo, até a partilha nas refeições entorno das mesas de nossas famílias. No círculo todos conseguem enxergar a todos, e todos tem a mesma condição para escutar e ser escutado.
Sempre que possível é importante organizar as conversas em círculo,
ou o mais próximo possível.
Perguntas
Boas perguntas, estratégicas e sinceras, são as melhores ferramentas para manter a qualidade da presença de todos na conversa e para manter o foco no fluxo de ideias. Quando você organiza uma conversa, vale a pena dedicar um tempo antes para encontrar as perguntas certas, lapidá-las, testá-las, até chegar naquela pergunta simples e poderosa que fará as pessoas se conectarem com o propósito da conversa e sigam juntas até o final dela.
Uma boa pergunta*:
-
É simples e clara
-
É provocativa e inquietante
-
Ativa diálogos mais significativos
-
Dá vitalidade à conversa
-
Foca a investigação
-
Desafia pressupostos
-
Abre novas possibilidades
-
Estimula novas perguntas
*Inspirado no Guia de Conversas Significativas - site da Cocriar
Para que todos tenham consciência de que a participação de cada indivíduo contribui para um conhecimento coletivo é importante que todos consigam visualizar as contribuições de todos.
As ideias materializadas em palavras, desenhos e símbolos acessíveis à todos os participantes funcionam como as sinapses no nosso cérebro, onde uma mesma informação está em vários lugares ao mesmo tempo e é ativada a medida que se torna necessária.
No grupo, quando representamos ideias e as deixamos acessíveis à todos. Elas estão em várias cabeças ao mesmo tempo e aos poucos vão fazendo parte do repertório comum do grupo e se tornam um conhecimento coletivo.
Existem várias técnicas para representar e dar meterialidade para as ideias que circulam no grupo:
Quando estamos em uma conversa entre várias pessoas, podemos sempre pensar como se o conjunto das pessoas, das ideias, das percepções, das subjetividades, formassem um novo ser, uma inteligência que emerge do encontro dessas partes.
Esse novo ser tem ideias e percepções próprias, e é ele quem vai compreender, aprender, decidir e, quando isso acontece, cada um que faz parte da conversa se desenvolve.
Colheita, Registro e Visualização de Ideias
Códigos e linguagens Comuns para Auto-Regulação do Grupo
Outro recurso importante para o bom desenvolvimento de uma conversa é um conjunto de códigos que podem ser combinados com o grupo para comunicar, em segundo plano, aspectos de organização de modo que não seja necessário interromper o fluxo de trabalho. Para que esse recurso funcione o mais importante é que todos compreendam a necessidade e o objetivo deles.
“Ho” - Suas palavras contemplam as minhas
É comum que em muitas conversas pessoas pensem de forma semelhante e quando uma pessoa expressa suas ideias a outra pessoa também quer expressá-las para mostrar que concorda ou que também pensou sobre isso.
Em uma conversa entre duas pessoas, não tem nenhum problema. Mas quando a conversa tem mais gente, e o importante é o conteúdo e não quem o trouxe, se isso acontece, fica redundante, cansativo e o que é pior, não aproveitamos a oportunidade para avançar na ideia.
Para isso existe um recurso muito interessante. Você pode combinar uma palavra com o grupo, muitos grupos, no mundo todo, usam o “Ho”.
Essa palavra é usada quando alguém diz algo que te contempla. Algo que poderia ser você falando, mas que não precisa ser dito novamente. Então você fala “Ho” de modo que não precisa interromper o raciocínio da pessoa e nem repetir o que ela já falou. Muitas vezes você escuta várias pessoas dizendo “Ho” para uma mesma ideia, isso significa que ela tem bastante reverberação no grupo, e por si só já é um indicador de como o grupo se relaciona com cada ideia. O importante é que o “Ho” funciona em segundo plano ou seja, ele aporta informação e organização no grupo, mas não interrompe o fluxo da atividade.
Acontece um outro fenômeno interessante com “Ho”. Quando você diz “Ho” para as palavras de alguém, para o grupo, é como se você também tivesse dito. Isso tira boa parte daquela ansiedade de elaborar nossas falas, e que muitas vezes nos atrapalha de escutar ativamente.
Afinal, se ficamos boa parte do nosso tempo com outros, conversando conosco mesmos, porque estar em uma conversa em grupo.
Concordo, Não Concordo, Preciso de Mais Informação (uma forma de Concenso Progressivo)
Os sistemas de votação são fundamentalmente falhos, uma vez que o avanço real do grupo pode, muitas vezes, estar escondido entre a minoria. Outras vezes porque a votação pode impor falsas escolhas e o grupo acaba por legitimar uma opção que não compreende por não ter ajudado a construir. A votação é possível, porque externaliza o "custo social" da falta de diálogo que seria necessário para chegar à uma convergência de valores comuns para todos no grupo. Mas é o sistema mais difundido e acaba sendo o mais prático.
Quando uma votação é necessária a sugestão é que, após a apresentação da proposta, o facilitador peça para
-
quem está de acordo manter os polegares para cima,
-
quem não está de acordo, mantém os polegares para baixo e
-
quem precisa de esclarecimento manter os polegares para o lado.
O grupo escuta primeiro alguém que precisa de mais informação, esclarecendo quem tem dúvidas semelhantes e reduzindo as incertezas. Se necessário escuta outras pessoas com dúvidas diferentes.
Em seguida o grupo escuta alguém que não concorda para entender seus pontos e argumentos. Se necessário escuta outras pessoas que tenham outros argumentos.
Em terceiro lugar o grupo escuta alguém que concorda para entender seus pontos e argumentos, que já podem conter propostas de melhoria das contribuições anteriores.
Faz-se então uma segunda rodada para ver se o cenário mudou. E assim progressivamente, convergindo para uma resultante real da vontade do grupo.
Mão da Atenção
Em muitas atividades, em um dado momento, a concentração parece se esvair, pessoas conversam paralelamente, se levantam, vão para um lado e para outro. Enfim, um pouco de caos. Isso muitas vezes é saudável, desde que não fuja muito do propósito do encontro.
Para isso tem um recurso simples: Uma pessoa (que pode ser o Anfitrião, ou qualquer outra pessoa que queira retomar o foco), simplesmente levanta a mão e fica em silêncio.
O combinado do grupo é que, obrigatoriamente, sem exceção toda a vez que você vê alguém com a mão levantada, você também levanta a mão e fica em silêncio. Isso cria uma cadeia de gestos e em poucos instantes estão todos naturalmente reconectados no foco da atividade. Porque, afinal, gritar para pedir silêncio é uma grande contradição, e só faz as pessoas gritarem ainda mais.
Uma dica para evitar que esses momentos de caos fujam do propósito do encontro, é combiná-los anteriormente, e dar alguns intervalos.
Objeto de Fala
Um objeto de fala é um recurso muito simples que desencadeia processos muito produtivos para o grupo.
Você escolhe um objeto pequeno que possa passar de mão em mão, mas não tão pequeno que fique escondido, é importante que todos vejam o objeto. Então você constrói uma narrativa para ele no grupo, isso significa que para aquele grupo esse objeto tem um significado especial. Isso faz com que esse objeto ganhe alguns poderes quando está nesse grupo:
Esse objeto terá o poder simbólico de:
-
Ajudar a pessoa que o segura a encontrar a melhor forma para expressar suas ideias e sentimentos para aquele grupo.
-
Fazer com que toda a atenção e todo o poder de escuta do grupo se concentre naquele que o está segurando.
-
Criar uma outra referência de tempo para quem fala e quem escuta tornando impossível falar mais, ou menos tempo do que o estritamente necessário para o grupo.
Dar materialidade à abstração
Muitas conversas exigem muito tempo de concentração em conceitos muito abstratos. E temos um limite para abstração de modo que, em pouco tempo, já não estamos compartilhando um mesmo assunto, mas lidando com representações subjetivas de cada um.
Uma solução é, sempre que possível, explorar o espaço e outros recursos, para dar materialidade aos conceitos. Por exemplo pedindo para os participantes se distribuirem na sala de acordo com o que pensam. Ou eleger um local que represente uma decisão de modo que as pessoas possam se deslocar até lá e percebem como se sentem nesse lugar e como se sentem em relação aos outros. Ou pedir que algéum represente uma decisão ou um tema e as pessoas perceberem como se sentem em relação à ela.
Acordos
E é claro, você sempre pode criar códigos, linguagens ou narrativas específicas para um grupo que faça mais sentido com a atividade que desenvovler. O Importante é combinar antes e garantir que faça sentido para todos. Se isso acontecer sua atividade transcorrerá de forma tranquila e orgânica.
A dica é: guarde sempre um momento inicial da conversa para esses momentos de alinhamento sobre como você pensou a dinâmica da conversa e fazer todos os combinados necessários para o bom fluxo da atividade.
Princípios da CNV (Comunicação Não-Violenta)
A ''Comunicação Não-Violenta'' (CNV) é um processo de pesquisa continua desenvolvido por Marshall Rosenberg e uma equipe internacional, que apóia o estabelecimento de relações de parceria e cooperação, em que predomina comunicação eficaz e com empatia. Enfatiza a importância de determinar ações a base de valores comuns.
Quando usada como guia na co-construção de acordos a CNV pode tomar a forma de uma série de distinções, entre as quais:
-
Distinção entre observações e juízos de valor
-
Distinção entre sentimentos e opiniões
-
Distinção entre necessidades (ou valores universais) e estrategias
-
Distinção entre pedidos e exigencias/ameaças
Um princípio-chave da Comunicação Não-Violenta é a capacidade de se expressar sem usar julgamentos de "bom" ou "mau", do que está certo ou errado. A ênfase é posta em expressar sentimentos e necessidades, em vez de críticas ou juízos de valor.
Rosenberg escolheu a comunicação conhecida como "não-violenta" para falar aproximadamente da filosofia de Mohandas Gandhi do ahimsa (ou não-violência).
Uma comunicação à base destas distinções tende a evitar dinâmicas classificatórias, dominatórias e desresponsabilizantes, que rotulem ou enquadrem os interlocutores ou terceiros.
O ideal da CNV é conseguir que nossas necessidades, desejos, anseios e esperanças não sejam satisfeitos às custas de outra pessoa.
Para quem quiser conhecer mais:
"Ecoerência" e "Econvergência"
Como Partido-Rede faremos muitos eventos de pequeno, médio e grande porte. Desde pequenas reuniões à grandes encontros e conferências. Como organizadores dessas atividades é imprescindível que estejamos constantemente conscientes dos impactos socioamebitais de nossas atividades e nas formas de reduzí-los ou mesmo de fazer com que essas atividades sejam regeneradoras do ecosistema.
Como diz Marina Silva, Meio Ambiente não é um "O Que" é um "Como". Não está no que a gente fala, mas no como fazemos as coisas. A REDE Sustentabilidade tem um grande desafio de trazer propostas para um Brasil mais sustentável, mas o primeiro passo é mostrarmos para nós mesmos, e para os outros, que isso é possível e que somos capazes, como grupo e como sociedade, de construir esse Brasil em harmonia com suas matrizes naturais.
Ser sustentável é perceber, aceitar e compreender que fazemos parte de algo maior, de que toda e qualquer atitude nossa, não é nossa, ela começa e termina nos outros elementos desse sistema. E isso não é uma opção. Como Bauman reforça "não vamos nos livrar da realidade". Conscientes disso, temos a responsabilidade constante sobre o que nos rodeia e nos permeia.
Essa responsabilidade não é sentida como um peso, mas como um impulso de fazer parte de um fluxo de vida que é maior e mais importante do que nossas necessidades, opiniões e desejos individuais.
A noção de indivíduo aos poucos se transforma e esse é o real desafio: conhecer, enfrentar e mudar a nós mesmos. E como partes do todo, inevitavelmente mudamos o todo.
É inaceitável que um partido-rede que tem a sustentabilidade no seu nome, não considere as práticas mais simples e mais avançadas para minimizar o impacto socioamebital de suas atividades e que por meio delas contribuam para a regeneração dos ecossistemas.
Dicas Simples são:
-
Gestão de Materiais
Busque ter em mente toda a cadeia de matéria envolvida na realização do seu evento, de onde ela virá, para que será usada e para onde irá após o uso. Com isso crie estratégias de logística reversa e redução de consumo e gestão de resídos.
-
Atenção às escolhas de consumo:
Tudo que consumimos fortalesce uma ou outra forma de mercado, escolhamos sempre aquela que contribui para relações socioambientais e socioaconômicas mais justas e coerentes.
-
Usar ao invés de Ter
Se alguém já tem o que você precisa para realizar um evento. Peça emprestado, crie uma dinâmica de trocas, mas não precisa comprar novamente.
-
Evitar ou reduzir ao máximo grandes deslocamentos de pessoas de longas distâncias.
A maioria das emissões de carbono e GEE na atmosfera são oriundas de transportes aéreos e terrestres. Se puder trabalhar a distância, priorize.
Se as emissões são inevitáveis você pode buscar uma forma de neutralizar a emissão por meio de ferramentas como essa.